Clichês


Tenho pena dos meus clichês
Eles são sempre tão habituais
E quase sempre tão indiscretos
Não são nada comedidos
Sobretudo quando amanhecem em Mi menor
E adormecem Lá.
Numa esquina qualquer, onde se encontram com outros
Fantasiando-se em desejos
Sendo inseridos numa paisagem
Num grande mundo do “faz-de-conta”
Sem inflação, nem fuso horário
Parecem até, parvas crianças
Sem tempo, sem vento, sem medos
Correndo no campinho de areia dos pensamentos
Alguns olham, passam, e acham graça
Outros nem tanto, passam então despercebidos
Daí, muda-se as estações
Vem calor de oeste, depois sopram ventos na nuca ao norte
Das nascentes icebergs derretem lentamente ao sul de vulcões
Tantas temperaturas, eles sofrem, ficam dissonantes
E tagarelas que são, não sabem silenciar
Vivem cúmplices de perigos comuns
Tenho pena dos meus clichês...

Equilíbrio do caos


Nem sempre era bom acreditar num equilíbrio
Entre uma antítese e outra, o equilíbrio gerava o caos
Caos e nós em sua garganta
E uma estapafúrdia angústia de saber que o longe lhe era tão perto,
Quase palpável de se estar com ela sem poder estar
Então entre um cigarro e outro
Ela tentava se adequar, fazia máscaras, vestia-as
Esculpia o que fosse necessário para permanecer sã
Amputava sentimentos de um lado
Decepava atitudes de outro
Corria de lá pra cá
Como criança sapeca que machuca quando cai de joelhos
Mas mesmo assim, insistia em cair
Caia e repudiava sua dor ao se ver no chão
Sensação ruim que latejava e fazia doer sua alma
Segurava o choro ao sentir lastimáveis emoções
E não eram suas anatomias curvadas que penavam
Eram suas memórias que enraizadas sangravam incessantemente
E faziam vibrar em seu íntimo
Que ela era alguém
Alguém que ficava muito bem
Quando estava sem ninguém

Despertar


E despertou ofegante de um sonho ruim
Onde se perdia por horas e horas a procura
De sua boca que nada dizia, não respondia
Nem sua língua, nenhuma palavra
Só havia um falso sorriso que rasgava
Silenciava o que sua vontade exprimia
Ela então notou que nem sua canção preferida sabia
Olhou para os seus pensamentos que saiam às pressas
Mas eram contidos fazendo pegadas no teto do quarto
Loucos, roucos, ocos, ecos, repetitivos
Presos naquele escuro estavam seguros
E aos pouquinhos enchiam-lhe a alma de escuros
Num tempo onde havia mais perguntas
Que respostas para seu mundo virtual...

Insônia


Já não era possível imaginar
O quanto gostaria de mudar
Tudo aquilo que lhe fazia mal
O quanto gostaria de morrer por um segundo
E despertar outra pessoa
Mal dormia na ansia de regressar
Desejosa ardia em suas secretas vontades
Que seus olhos voltassem a cruzar com os dela
E era ruim admitir que lamentavelmente não tinha volta
Então não se importava seja onde quer que ela estivesse
A beijaria em seus sonhos como sempre
E arderia por ela
Até se perder pelo próprio corpo
E adormecer mais uma vez sem a ter no calor dos braços...

Pernas Bambas

Eu estou coletando minhas lágrimas
Elas enchem os mares e todos os lagos
Com memórias que o vento soprou
Eu ficaria sem lágrimas antes que um segundo pudesse passar
Pois agora não há tempo suficiente para você virar a ampulheta

Imagens na minha cabeça de repente aparecem
Porque você tem que ir embora?
É tudo muito claro, não?

Adeus meu doce e pequeno anjo
Veleje por mares do meu pranto
Tatuei os momentos que tivemos
Em minha memória
Lembrá-los deixa minhas pernas tão bambas

Quando eu fecho os olhos vejo você
O sorriso no canto dos lábios
Esquecerei você para que as coisas desapareçam
Porque não a verei mais

Acordei esta manhã e esperava por um sonho
Mas a realidade sentou ao meu lado e me obrigou a acreditar
Que é errado tentar parar
O rápido comboio que é a vida em movimento

Funeral flores
Não vão me fazer acreditar
Posso realizar o enterro
E eu ainda esperar para vê-la
Vindo pela manhã escrevendo-me todas as suas notícias

Eu não peço muito de você
Durma ouvindo a canção que eu fiz
E apenas me dê mais uma chance
Para dizer meu último adeus

Adeus meu doce e pequeno anjo
Veleje por mares do meu pranto
Tatuei os momentos que tivemos
Em minha memória
Lembrá-los deixa minhas pernas tão bambas...